"Vendaval de utopias" : do catolicismo social ao compromisso político em Portugal : 1965-1976 : os católicos da revolução e o PCP

Este estudo tem como arco cronológico o ano de 1965, data em que se concluiu o II Concílio Vaticano, acontecimento marcante de expressão da vontade renovadora da Igreja Católica, mas também um referencial simbólico de processos de aggiornamento que atravessaram diversas sociedades, com dinâmicas de entusiasmante esperança e de compromissos pluriformes quanto à criação de uma sociedade diferente. A outra extremidade do arco temporal é 1976, quando, depois da Revolução de Abril, em Portugal, se confirma e projeta na história a construção de um modelo democrático, através da aprovação da Constituição da República Portuguesa, a 2 de abril de 1976. No Estado Novo, diversos setores da sociedade portuguesa mobilizaram-se, não só para o derrube do regime de Salazar e Caetano, mas também pela imaginação de uma sociedade alternativa, radicalmente distinta nas suas formas de organização, produção e desenvolvimento, tendo como horizonte futuro o socialismo. Naquele âmbito, na pesquisa historiográfica colocaremos o enfoque no papel dos movimentos sociais, no que ambicionavam de transformação da sociedade, nos seus ideais e obstaculizações, no modo como fluíram e aconteceram através da ação direta, numa intervenção coletiva, na procura de sentido, questionando as estruturas e propondo mudanças, desencadeando alterações nas formas de organização da sociedade. De entre os movimentos sociais, priorizámos a investigação sobre o movimento da paz, o movimento operário e sindical e o movimento em defesa dos presos políticos, e neles identificámos desencontros entre o PCP, os católicos e a igreja, como também confluências e registos de articulações entre comunistas e católicos. No cerzir dessas convergências nos movimentos sociais também esteve em incubação o 25 de Abril. Nestas trajetórias far-se-á a contextualização da pluralidade das experiências dos «católicos da revolução», aqueles católicos que motivados por uma ideia de «revolução», pelo sentido escatológico inerente ao marxismo ou impelidos pelo dever de inadiável agir transformador da história, pela edificação da justiça, decidiram fazer uma opção revolucionáriaThis study takes as its chronological arc the year 1965, the date on which the Second Vatican Council concluded itself. This was a remarkable milestone that expressed the renewed will of the Catholic Church, but also a symbolic reference of aggiornamento processes that crossed different societies, with dynamics of exciting hope and multi-faceted commitments to the creation of a different society. The other end of this temporal arc is 1976, when, after the April Revolution, in Portugal, the construction of a democratic model is confirmed and projected in history, after the approval of the Constitution of the Portuguese Republic, on April 2, 1976. In the Estado Novo, various sectors of Portuguese society mobilized, not only to overthrow the Salazar and Caetano regime but also through the imagination of an alternative society, radically different in its forms of organization, production, and development, with future horizons regarding socialism. In that context, in historiographical research, we will focus on the role of social movements, on what they aspired to transform society, on their ideals and obstacles, on the way they flowed and happened through direct action, in a collective intervention, in the search for meaning, questioning structures and proposing changes, triggering changes in the forms of organization of society. Among the social movements, we prioritized research on the peace movement, the labor and trade union movement, the movement in defense of political prisoners. In them, we identified disagreements between the Portuguese Communist Party, the Catholics, and the Church, as well as confluences and records of articulations between communists and Catholics. Amid these convergences on these social movements, the «25th of April» was also incubated. In these trajectories, the plurality of experiences of the «revolutionary Catholics» will be contextualized. Those Catholics who were motivated by an idea of «revolution» by the eschatological sense inherent to Marxism or impelled by the duty of unavoidable action to transform history, due to their edification of justice, decided to make a revolutionary option